Lucro sustentável e valor agregado aos negócios são os fundamentos sobre os quais se firmará a carreira dos administradores nos próximos anos. Frente a essa tendência, especialistas recomendam que o maior contingente de graduandos do país se prepare para lidar com inovação, ética e governança no dia a dia corporativo.
Em entrevista exclusiva à Folha, Henri Vahdat, sócio-líder de gestão de capital humano da consultoria Deloitte, fala sobre áreas promissoras da administração.
Quais são as carreiras que mais se destacarão nos próximos dez anos?
Vahdat - Como serão os negócios do futuro determina quais serão as carreiras promissoras. Oferecer produtos e serviços de qualidade já não é um diferencial para se ganhar o jogo, mas apenas para entrar nele. Hoje, o diferencial está na sustentabilidade e na inovação, que são o novo mantra dos negócios. Obter o lucro máximo começa a perder força para o lucro ótimo, que é aquele que gera valor a médio e longo prazos.
Que movimentos de mercado levaram ao protagonismo do lucro sustentável nas empresas?
Vahdat - Nas décadas de 1980 e 1990, as companhias investiram pesado na área de operação, na clássica cadeia de valor de uma indústria, com ênfase em qualidade e processos. Nos anos 2000, por sua vez, se deu a corrida rumo à inovação nos modelos de negócio, com novas proposições de valor e intermediação. Atualmente, vivemos a transição de economias focadas em qualidade e processos para inovação e sustentabilidade. Se os negócios evoluíram dessa forma, é nessa direção que as carreiras vão caminhar.
Então quais são elas?
Vahdat - As carreiras que se destacarão são aquelas que fazem uso da inteligência de mercado para inovar por meio de negócios sustentáveis. Mas não podemos deixar de citar também as áreas ligadas à governança corporativa, que são o conjunto das práticas de alta gestão e que envolvem gerenciamento de risco e planejamento estratégico de longo prazo. Gestão do capital humano, para lidar com segmentos críticos da força de trabalho, e administração com foco em TI (tecnologia da informação) também têm se apresentado como carreiras de destaque.
Qual o espaço que se desenha para o empreendedorismo no Brasil?
Vahdat - O país faz parte do conjunto dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e está em condição favorável de crescimento e atratividade de novos negócios. Nesse contexto, o empreendedorismo tende a ganhar mais espaço, desde que também se oriente para a inovação e a sustentabilidade. De um lado, temos um cenário econômico favorável, mas, de outro, há um contingente de graduandos em administração da ordem de 1.102.579 alunos, segundo o mais recente Censo da Educação Superior, realizado pelo MEC (Ministério da Educação).
O mercado tem condições de absorver tanta gente?
Vahdat - As empresas precisam de profissionais com conhecimento em áreas críticas para o sucesso do negócio, que são justamente aquelas ligadas ao modelo de gestão. Eu me refiro, mais precisamente, ao modelo de liderança, governança, cultura empresarial, retenção e desenvolvimento de talentos, estrutura organizacional e competências da empresa.
E qual será o perfil do administrador do futuro?
Vahdat - Ele deverá ter uma visão mais sistêmica dos negócios; cuidar destes, mas também das pessoas; ter pensamento inovador e disruptivo para chegar primeiro ao futuro; compreender que inovação e sustentabilidade precisam permear todas as atividades de uma organização; e, sobretudo, não se preocupar com as carreiras tradicionais, porque a evolução já não se dá em degraus sucessivos.
Se o encarreiramento tradicional tende ao fim, qual será o modelo que o substituirá?
Vahdat - Já são cada vez mais comuns em empresas de ponta os deslocamentos laterais para, por exemplo, complementar a formação antes de se galgar uma posição mais alta. Nesse modelo de carreira, chamado de "malha corporativa", a estrutura é matricial, as competências definem o trabalho, as trilhas de progressão são multidirecionais e existe alta mobilidade dos colaboradores para atuar em diferentes projetos, países e times como forma de propiciar o crescimento profissional e pessoal do colaborador.
Fonte: folha.com
Autor: Lara Silbiger (Colaboração para a Folha)
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